terça-feira, 27 de novembro de 2012
Automóvel
A nossa vida cabe dentro de um carro.
Você se vai e o que resta?
Se você morre, tirando o corpo, o que sobrou?
Um monte de tranqueiras...
Roupas, uns cremes, uma escova de dentes, uns perfumes, livros...
E depois que o útil for doado, o inútil cabe dentro de algumas caixas, e lá se vai um carro, e a sua vida dentro.
Se você for rico o carro será maior, os detalhes mais bem cuidados e vai ter mais gente fingindo que se importa...
Mas, via de regra, tudo o que você é, tudo o que te representa cabe em um automóvel.
Sempre terá, é claro, o amor de quem realmente se importava.
Mas a morte é uma dor, e quando a ferida cicatrizar o amor seca. Logo se transforma em uma saudade, que desfoca e vira uma distante lembrança, um borrão...
Você não passa de um borrão,
um borrão com um sorriso pequeno, quase imperceptível.
Niyemayer estava certo. A vida é um sopro.
Mas ele projetou Brasília. E você deixou o que?
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