terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Crônicas Coloridas VI


VI- Sombra

          Um corredor longo, imundo, mal iluminado. Fedia a uma mistura de mofo e mágoa derretida. Pelas paredes retratos tortos e manchados pendurados, recentes, mas comprometidos pelas bactérias e fungos das invejas e do ciúmes.

          O amarelo sujo enferrujado do recalque pinta as paredes, e ele o perceberia se não estivesse sempre envolto na esfera escura de auto piedade e solidão que lhe devora.

          Procura desesperadamente algo que faça a dor parar, vasculha seus discos rígidos, seus episódios, seus livros, em vão. Não há força neste mundo poderosa o suficiente para entrar em sua esfera. Tirá-lo de lá seria ainda mais difícil.

          De longe uma sábia senhora o observa, se perguntando quanto tempo será necessário para que ele perceba que daquela esfera basta um passo, daquele quarto basta atravessar a porta, daquele corredor basta que o atravesse. A felicidade é uma porta, a maçaneta é a vontade.