sexta-feira, 4 de julho de 2014

Crônicas Coloridas IV

IV_ Anjos

          Juntou seus trapos todos, fez as malas, desmontou seus móveis, jogou tudo que tinha na traseira de uma Saveiro e já estava pronto pra ir, de novo, morar em outro lugar, de novo.

          Depois de pegar a última mochila, passou, com cara de indignação e birra forçadas, e bateu a porta com muito  mais força do que o normal.

          Do outro lado da porta o seu ex colega de quarto acende uma vela em cima da geladeira, do lado de um copo com água, seu anjo da guarda mostrou serviço novamente.

          Ele desceu até a Saveiro, indignado.

          É que depois de mais de um mês de sobreaviso o colega de quarto finalmente chamou-o e cobrou que ele deixasse o apartamento o quanto antes. É mais difícil ajudar quem não se ajuda. O desespero nunca entrou nessa história, ninguém se desespera de estar sem teto se já ficou na mesma situação tantas outras vezes, todas oriundas das garras do monstro que mora dentro dele, o monstro preguiçoso.

Seus talentos naturais compreendiam: Coloração apenas do próprio cabelo; Reclamar da vida 'difícil' que tem nas redes sociais; Ir extremamente mal na faculdade; Fritar ovos e abusar da boa vontade alheia. Não se fica muito tempo em  lugar algum com um currículo desses.

          Bate a porta do carro, no banco do carona põe o cinto de segurança e saca o celular com uma rapidez digna de faroeste, desce na agenda de contatos e começa a discar, não tardará a encontrar mais um, um com um anjo da guarda que esteja de bobeira.

  E no andar de cima o ex amigo suspira aliviado, solta um risinho frouxo, cansado mas muito bem humorado, enquanto cantarola, arriscando ser brega: " — Quem será a próxima vítima agora?" Wando nunca fez tanto sentido.

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