terça-feira, 30 de outubro de 2012

Crônicas Coloridas

I — Dinheiro

          A toalha felpuda passa lentamente pelos braços, pelas pernas, mais uma vez pelos cabelos, levando as gotas que resistiram, acariciando os póros abertos, suprindo a necessidade das carícias de um corpo acostumado às pancadas, ao insensível. O plug se conecta na tomada e o velho secador de cabelos começa a urrar transpassando o ar úmido e sufocante de sua casa apertada, a escova passa modelando e fixando os cabelos para cima, a chapinha e a pomada auxiliam.

          Veste sua cueca Calvin Klein, falsa, mas o que importa é o 'truque', sua calça jeans apertada, toma quase outro banho de perfume, enfia às pressas a camiseta ainda mais justa, estilo gola v, eles já estão lhe esperando, impacientes.

          Há alguns minutos soava a buzina do belo Crossfox preto à porta de sua casa, as vizinhas que trocavam recalques e venenos em voz baixa, sorrateiras como cobras, acompanham o desenrolar, desconhecem o carro, desconhecem a perspectiva.

          Tranca a porta do quarto e desce as escadas, guarda a vergonha no bolso traseiro junto com as chaves, o orgulho ferido e a auto estima baixa não dá pra guardar, mas também não dão na vista, e no fim das contas quem se importa com o que não dá na vista?

          Abre a porta da rua, olha as vizinhas nos olhos e sente na boca o gosto amargo do julgamento, ou seria o sangue? — Aquele dente do ciso maldito!

  Tranca a porta da rua, gira 180 graus abre a porta do carro e entra. Que fiquem as vizinhas perplexas, a rotina urge!... assim como os cobradores.

Nenhum comentário:

Postar um comentário