quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Crônicas Coloridas II

II - Ilusão

          Impaciente e sozinho na fila da balada, barba feita, jeans apertado, uma correntinha pra dar uma diferenciada, o cabelo pra cima e o ego inflado.

          "— Sério, o que eu tô fazendo aqui sozinho?" Se pergunta em tom irônico mas já sabe da resposta, corajoso até certo ponto, medroso demais para encarar o monstro do 'sábado-a-noite-sozinho'. Antes uma fila cheia de viados chatos e espalhafatosos, das figurinhas repetidas que batem cartão na noite, do que o sem-som infinito do seu apartamento e o tratamento de gelo do seu travesseiro.

          Ao menos quando entrar na pista de dança … ah! a pista de dança! … lá o mundo se apaga , lá a homofobia vira neon, o salário ruim vira gelo seco, e as invejas viram álcool.

          Dança a noite toda, muito porque quer, mas muito mais porque precisa, precisa se sentir vivo, precisa que olhem pra ele com volúpia, precisa do desejo.

          E sabe muito bem que aquela pista é sua torre e sua prisão, que o DJ é a bruxa má que lhe enfeitiça e o segurança é o dragão, e espera, espera enquanto o príncipe encantado não chega, embora pense que se fosse ele o príncipe, não valeria a pena o risco.

          Mais um gole de absinto, mais um passo em direção ao mundo mágico dos bêbados, mais parecidos com o príncipe vão ficando os ogros, será que dá pra diferenciar?

          E quando o sol invade e derrete seu mundinho, olha pros lados e percebe-se sozinho, de novo atrasou-se o sr. príncipe, de novo machucou-se a sra. princesa.

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