segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Crônicas Coloridas V


V_ Peter

          Desliga o carro, tira a chave da ignição, retira o rádio do painel e guarda-o no estojo enquanto respira fundo, o tempo está passando e essas noitadas vão ficando cada vez mais curtas, mais cansativas, mais difíceis. Sabe, mas não admite.

          Qualquer um que o visse classificaria-o rapidamente como lindo, bonito, "boa-pinta" ou qualquer coisa que o valha, alto e com músculos definidos, frutos de muito esforço e dedicação, maxilar com linhas claras e retas, quase quadrado, cabelo na moda e olhos verdes que fariam qualquer 'bibinha' declarar-se apaixonada instantâneamente, amor miojo.

          E não importava o que os outros diziam, estava convencido de ter nascido na década errada. Nunca se deu bem com os gays da sua idade, exceto um amigo aqui e acolá, passou desapercebido pelos vinte anos, não frequentava qualquer lugar 'gls' nos anos 90 e nutria um ódio profundo pela música techno 'putz-putz' que reinava na época.

          Nessa noite vai a uma balada com alguns amigos, nenhum deles nascido antes de 92, não é nenhum iludido, tem seu MBA e sabe muito bem aonde está pisando e é plenamente consciente das diferenças que os unem. Mesmo assim, não se conforma com calmarias ou supostos relacionamentos sérios, pra ele gays são sempre jovens, sexo é sempre a primeira coisa da lista, e o saldo de beijos no fim da noite ainda é mais importante do que a qualidade de qualquer um deles.

          Identifica um dos amigos na fila e volta a si, sai do carro e o acompanha, logo estará dançando e disparando olhares fulminantes, que são sempre bem recebidos. Curiosamente a casa noturna se chama Terra do Nunca e o apelido de seu amigo é 'sininho'. Enquanto passava pela revista do segurança sentia um metal gelado e frio, curvo e afiado tocar sua pele. Se assusta, procura pela origem daquela sensação, em vão. A vida as vezes se disfarça de conto de fadas.

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